A ambiguidade moral do eclipse em berserk e a percepção complexa sobre griffith

O sacrifício da Banda do Falcão, o Eclipse, renova o debate sobre a figura controversa de Griffith.

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Analista de Mangá Shounen

25/11/2025 às 07:44

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O ponto culminante da narrativa de Berserk, conhecido como O Eclipse, continua a ser um dos eventos mais traumáticos e debatidos da história dos mangás. Este marco narrativo, onde a traição de Griffith se concretiza, forçando Guts a enfrentar o sacrifício da Banda do Falcão para alcançar seu sonho, reacende discussões profundas sobre a natureza do heroísmo e da vilania.

Apesar da carnificina e do horror indescritível infligidos aos seus antigos companheiros, certas interpretações observam nuances na jornada de Griffith, reconhecendo a complexidade de suas motivações antes e durante o sacrifício. Para muitos, o surgimento dele como Femto, um dos membros da Mão de Deus, representa a destilação de um desejo implacável por um reino próprio, uma ambição que consumiu sua humanidade.

O peso do sonho versus a moralidade

A obra de Kentaro Miura explora com maestria até que ponto um indivíduo pode ir em busca de um objetivo supremo. Griffith, um personagem carismático e aspiracional no início da série, foi moldado pela crueldade de sua origem e pela opressão que sentia por não possuir um reino ou soberania. Seu desejo fervente por seu próprio castelo, um lugar de pertencimento e poder, o levou a reavaliar o valor de seus laços afetivos e de seu grupo de mercenários.

A transformação não foi um ato espontâneo de puro mal, mas sim o ápice de anos de repressão e sacrifício pessoal. Analisar O Eclipse sob esta luz desloca o foco da mera condenação para a compreensão da tragédia inerente à busca desmedida por poder. O preço estabelecido pelo sacrifício, que incluiu casar seu destino com o astral, selou seu destino como uma entidade maligna, mas não apaga a complexidade da figura que ele foi.

A perspectiva do sacrifício

O ponto de vista que tenta relativizar a maldade de Griffith frequentemente se apoia em seu papel anterior como líder inspirador e quase messiânico para a Banda do Falcão. Ele lhes deu propósito e esperança. No entanto, essa visão precisa ser confrontada com a realidade brutal do que aconteceu com Caska e os demais sob a ascensão de Femto. A narrativa subsequente de Berserk, conduzida agora por Kouji Mori e o Estúdio Gaga, foca amplamente na recuperação e na vingança, reforçando a visão de Griffith como um antagonista central irredimível.

A discussão persiste porque a obra apresenta um dilema filosófico: pode um ato inicial de grandeza justificar uma traição cataclísmica? A complexidade de Griffith reside justamente em ser um catalisador tanto para êxtase quanto para o desespero absoluto, mantendo seu lugar como um dos vilões mais fascinantes e, paradoxalmente, compreensíveis da literatura em quadrinhos, ecoando temas explorados em tragédias clássicas sobre a ambição humana.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.