A ambiguidade moral de griffith: O dilema entre ambição extrema e desespero na narrativa de berserk
A trajetória de Griffith, marcada por sofrimento inimaginável e ascensão divina, gera debates sobre a validade de sua escolha sacrificial.
A complexa figura de Griffith, personagem central na obra Berserk, continua a ser um dos pontos mais intensos e divisivos entre os leitores e analistas da série. Aos leitores que acompanham a jornada até os capítulos mais recentes, a aparente unanimidade contra o personagem cede espaço para uma análise mais profunda de suas motivações no momento crucial de sua transformação.
O cerne da questão reside no contexto de sofrimento absoluto imposto a Griffith. Após um ano de tortura brutal, que o deixou em um estado de prostração onde mal conseguia se mover sem auxílio, foi-lhe apresentada uma oferta para transcender a condição humana e se tornar um ser de poder ilimitado, essencialmente divino. Esta situação coloca em xeque a moralidade humana diante da perspectiva de poder supremo após a ruína total.
O peso da ambição versus o instinto de sobrevivência
A discussão surge ao ponderar se a maioria das pessoas, estando no limite da fraqueza e do desespero, não sucumbiria à oportunidade de redenção e poder mundial, mesmo que o custo fosse a traição de seus ideais e companheiros. Embora o ato de sacrificar a Banda do Falcão seja universalmente condenado como um erro fatal e moralmente repulsivo, a perspectiva de alcançar o sonho de governar o mundo, quando se está aniquilado fisicamente, introduz uma camada de ambiguidade.
Argumenta-se que o caminho correto seria, de fato, manter os princípios e sacrificar o sonho pessoal em respeito ao sacrifício já feito por seus soldados. Contudo, em um momento de extrema vulnerabilidade, a ação de Griffith pode ser vista, por uma pequena porcentagem de observadores, como um desespero compreensível diante da perda de tudo o que construiu.
A separação entre a escolha e o ato contra Casca
É vital distinguir a motivação inicial de Griffith para aceitar a Oferenda do Eclipse da crueldade subsequente. Enquanto a escolha de sacrificar seus entes queridos é ligada à sua ambição quebrada e desespero, o tratamento infligido a Casca é frequentemente interpretado como algo separado, impulsionado por uma malevolência específica e vingativa que parece estranha ao Griffith humano que existia antes da transformação. Este ato, visto como puramente destrutivo e cruel, não se encaixa facilmente na lógica de ascensão ao poder.
Adicionalmente, as ações que ele empreende após sua reencarnação como Femto, particularmente os eventos relacionados com a tragédia de Albion, sugerem um mal inerente que não estava presente em sua forma humana. Isso reforça a ideia de que a entidade que emergiu não é apenas o Griffith ambicioso, mas algo fundamentalmente alterado por forças cósmicas, distanciando seu comportamento de seu caráter anterior. A jornada de Griffith em Berserk toca em questões profundas sobre o que significa alcançar um sonho a qualquer custo, e se o poder absoluto corrompe ou meramente revela a escuridão latente.