A ambiguidade moral dos hashira: Uma análise do comportamento dos pilares em kimetsu no yaiba

A análise das posturas iniciais dos Hashira, os espadachins de elite do Corpo de Exterminadores de Demônios em Kimetsu no Yaiba, levanta questionamentos sobre a rigidez moral e as dinâmicas sociais prevalentes na era retratada pela obra. Embora sejam heróis essenciais na luta contra Muzan Kibutsuji e seus demônios, o comportamento de alguns pilares, especialmente antes da influência transformadora de Tanjiro Kamado, é frequentemente marcado por aspereza e julgamento severo.

A severidade inicial e o tratamento aos novatos

A primeira impressão de figuras como Sanemi Shinazugawa, o Hashira do Vento, é de selvageria e impulsividade, características que, embora reconhecidas como parte de sua persona, demonstram um desprezo inicial pelas normas sociais mais brandas. O mesmo vale para a reação coletiva ao julgamento de Tanjiro e sua irmã demônio, Nezuko.

Um ponto focal de observação é a reunião inicial convocada pelo Mestre Kagaya Ubuyashiki. Ao saber que Tanjiro havia encontrado Muzan, a reação dos Hashira é de imediata agressividade. O episódio em que Tengen Uzui, o Hashira do Som, supostamente empurra Mitsuri Kanroji, a Hashira do Amor, provocando um grito nela, serve como um exemplo vívido da falta de consideração pelas figuras femininas no grupo, mesmo em momentos de alta tensão.

Chauvinismo velado e isolamento controlado

A dinâmica entre certos Hashira e suas parceiras ou colegas femininas sugere traços de comportamento que hoje seriam categorizados como chauvinistas. O caso de Obanai Iguro, o Hashira da Serpente, é particularmente notório. Sua postura excessivamente protetora e quase obsessiva em relação a Mitsuri, restringindo seu contato com outras pessoas, levanta a preocupação sobre um controle que beira o inadequado, exigindo uma verificação constante de seu bem-estar emocional pelo próprio Mestre.

Uzui, em seu papel, exemplifica a mentalidade da época, chegando ao ponto de quase levar consigo as jovens da Casa de Chá Wisteria, mesmo com a preocupação sobre suas vidas prévias como cortesãs, um detalhe sombrio da sociedade retratada no Japão do início do século XX.

O Contraponto: Kyojuro Rengoku e Giyu Tomioka

Apesar do ceticismo generalizado, nem todos os Hashira mantiveram uma linha de conduta uniformemente dura. Kyojuro Rengoku, o Hashira das Chamas, demonstrou um entusiasmo preocupante pela ideia de executar Tanjiro inicialmente, sorrindo com intensidade ao discutir a morte do garoto. Contudo, sua subsequente evolução e seu forte senso de justiça, embora implacável, são temperados por um código de honra inabalável.

Em contraste direto, Giyu Tomioka, o Hashira da Água, representa a exceção notável. Mesmo discordando da decisão de executar Nezuko, baseada nas regras do Corpo, Tomioka estava visivelmente preparado para intervir militarmente se a vida de Tanjiro estivesse ameaçada por seus pares. A sua defesa silenciosa e determinada do protagonista, mesmo que inicialmente motivada por uma dívida pessoal, sinaliza um senso de justiça mais profundo que transcende a mera obediência cega.

Gyomei Himejima, o Hashira da Pedra, por outro lado, permanece em grande parte impassível e quieto durante esses confrontos iniciais, sendo visto como alguém guiado por crenças espirituais, inicialmente mal informado, mas não intrinsecamente hostil. É a chegada e a perseverança de Tanjiro que atuam como catalisadores, forçando esses pilares a reavaliarem a rigidez de suas crenças e abre portas para uma maior empatia, ilustrando o poderoso impacto de um caráter íntegro no ambiente mais austero.