Análise aponta caminho para um final esperançoso em berserk, focado na transformação de guts

A jornada épica e sombria de Berserk, criada pelo falecido mestre Kentaro Miura, possui um substrato filosófico que pode indicar um destino surpreendentemente positivo para seu protagonista, Guts. Uma interpretação focada nas fundações narrativas do mangá sugere que o sofrimento implacável do Espadachim Negro não é uma punição eterna, mas sim um catalisador para a libertação final.

A complexidade do vínculo com Griffith

O ponto de inflexão da série, o Eclipse, paradoxalmente, contém as sementes para uma resolução pacífica. No Arco da Era de Ouro, antes da tragédia, Griffith expressa um sentimento singular em relação a Guts: “De todas as dezenas de milhares de companheiros, somente um, somente você, obscureceu a visão do meu sonho.” Essa declaração não apenas confirma o valor de Guts para Griffith, mas indica que a presença dele desestabilizou a visão de mundo metódica e controlada de Griffith. Esse apego emocional, mesmo que distorcido, estabelece uma conexão profunda entre os dois personagens centrais.

A trajetória de Guts após o Eclipse é definida, inicialmente, por uma perda existencial. Griffith estabeleceu que um verdadeiro “amigo” deve possuir a “própria razão de viver”. Ironicamente, Guts abdica dessa noção, ancorando sua existência unicamente na vingança contra Griffith. A vingança, no entanto, é apresentada como um propósito vazio e meramente reativo. A continuidade da obra pós-Miura reforça a necessidade de Guts de superar esse ciclo de ódio, curar suas feridas emocionais e redescobrir um motivo genuíno para continuar vivendo.

Sofrimento como lição, não punição

Para que a narrativa de Berserk atinja sua resolução temática, Guts precisa se libertar da força que o mantém paralisado: Griffith. Existem duas vias principais para essa resolução, ambas com um tom de desfecho favorável. A primeira possibilidade é a morte pacífica de Guts, alcançada após finalmente encontrar serenidade. A segunda, e talvez mais alinhada com a transformação interna, envolve Griffith ter seus pecados relativizados à medida que ambos os personagens atingem um entendimento mútuo de suas jornadas.

O cerne da construção de Miura sempre foi utilizar o sofrimento como ferramenta de aprendizado, transformação e mudança, e não como uma condenação definitiva. A obstinação e a natureza inflexível de Guts o colocam no caminho da dor extrema. Contudo, se o sofrimento em Berserk possui um propósito intrínseco, ele deve culminar em um aprendizado que libere o protagonista de sua prisão autoimposta. A jornada é, fundamentalmente, sobre o crescimento que emerge da adversidade extrema, pavimentando o caminho para um final onde a escuridão da vingança é transcendida pela luz da sobrevivência e do propósito renovado.