Análise aprofundada distingue griffith de femto, explorando a perda da humanidade no universo de berserk
Uma análise detalhada sugere que Femto é uma manifestação maligna, e não a totalidade do que Griffith representa.
A complexidade psicológica de Griffith, um dos personagens centrais do mangá Berserk, sempre foi um campo fértil para interpretações. Uma linha de raciocínio emergente foca na distinção fundamental entre o ser humano Griffith e sua entidade demoníaca pós-sacrifício, Femto, argumentando que o segundo é uma sombra transformada, um monstro interior que se materializou, e não a soma integral do que Griffith já foi.
Durante sua fase humana, Griffith exibia emoções e sentimentos, mesmo que tentasse suprimi-los em perseguição ao seu sonho. Essas emoções eram parte intrínseca de sua luta. Com a ascensão a Femto, contudo, a situação se altera drasticamente. Femto é descrito como uma entidade cujos sentimentos humanos, incluindo o afeto - por exemplo, a relação complexa com Guts -, foram congelados ou eliminados. Nessa forma, o ser manifesta apenas emoções negativas intensificadas, como raiva, ressentimento e fúria.
O ato do sacrifício, segundo essa perspectiva, não apenas concedeu poder, mas criou uma lacuna no coração de Griffith, preenchida por uma maldade pura. Isso implica que Femto não herda apenas as táticas do antigo Griffith, mas é infundido com um grau maior de malevolência. A violação de Casca, por exemplo, é vista como um ato calculista motivado pelo desejo de dominar e atormentar Guts, um eco pervertido das antigas tensões, mas desprovido de qualquer resquício de bondade ou conexão genuína que Griffith demonstrara anteriormente, como o desejo de proteger Guts em momentos de perigo.
A sombra junguiana de Griffith
A conceituação mais esclarecedora dessa divisão é a comparação de Femto com a sombra junguiana ou, de forma mais simplificada, como o Hulk de Bruce Banner. O Dr. Banner possui inteligência, mas carece da força bruta do Hulk, que é a manifestação física de sua raiva amplificada. Da mesma forma, Femto seria a manifestação física do desejo insaciável de dominação e ambição de Griffith, mas despojado de sua humanidade e empatia residuais.
Embora Griffith possa ver Femto como sua versão ideal, isso não o torna idêntico ao ser desprovido de alma. Se Femto agisse como o antigo Griffith em certas situações - demonstrando remorso pela morte de uma criança ou abandonando seu sonho por um motivo pessoal -, a distinção seria invalidada. O ponto central da narrativa da Era Dourada, argumenta-se, não era que Griffith fosse um ser puramente mau desde o início, mas sim que ele possuía uma humanidade que foi drasticamente corrompida.
A ideia de que Griffith foi Femto desde a infância é considerada uma simplificação excessiva que desumaniza a complexidade do personagem. Essa visão ignora o arco de desenvolvimento emocional e as relações que definiram Griffith antes de sua transformação final no Rei do Reino do Pássaro de Fogo, reforçando que a entidade demoníaca é uma consequência trágica, e não a essência imutável.