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Análise: O fascínio complexo em torno da figura de griffith e femto na obra berserk

A popularidade de Griffith, um dos antagonistas mais icônicos dos mangás, levanta questões sobre a atração do público por sua narrativa.

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Analista de Mangá Shounen

25/11/2025 às 19:08

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A figura de Griffith, o carismático líder da Tropa do Falcão e sua subsequente transformação em Femto, o quinto membro da Mão de Deus, continua a ser um dos pontos mais debatidos e divisivos dentro da obra Berserk, de Kentaro Miura. A complexidade moral do personagem inspira uma admiração que desafia a totalidade de seus atos hediondos, especialmente após o Eclipse.

O apelo da ambição inabalável

O que atrai tantos leitores a personagens que ultrapassam os limites da moralidade tradicional? A atração por Griffith não reside em sua retidão, mas sim em sua ambição pura e sem filtros. Desde o início de sua jornada, sua determinação em conquistar um reino, ascendendo de um grupo de mercenários a uma força política influente, é retratada com um brilho quase messiânico. Essa busca implacável por um sonho, que ele próprio descreve como a única coisa pela qual vale a pena viver, ressoa com um desejo humano fundamental de transcendência e realização máxima.

Essa fascinação, muitas vezes, ignora as consequências catastróficas de seus objetivos. Para alguns, Griffith representa a ideia do sacrifício extremo pelo poder, uma validação perigosa de que grandes realizações exigem uma indiferença fria ao sofrimento alheio. Sua estética, caracterizada por uma beleza andrógina e uma aura de liderança magnética, reforça essa sedução, tornando-o inesquecível, mesmo quando suas ações são abomináveis.

A dicotomia entre Griffith e Femto

Uma parte crucial do debate envolve a separação psicológica entre as duas formas do personagem. Há quem argumente que o fascínio se concentra no Griffith original, o líder humano consumido pela dor e pelo desejo de redenção (ou vingança) após sua prisão e tortura. Este arco explorou a fragilidade humana sob pressão extrema, um momento de profunda vulnerabilidade antes da transição.

Por outro lado, a entidade sobrenatural, Femto, atrai por seu poder absoluto e sua natureza transcendente. Ele se tornou uma força da natureza, um arquétipo do mal sublime, cujas motivações são distantes e incompreensíveis para a experiência humana comum. A capacidade de Miura de criar um vilão que é, simultaneamente, um ícone de beleza e um agente de terror cósmico, solidifica seu lugar na mitologia do mangá.

Para muitos leitores, a dificuldade em sentir empatia por ele após o sacrifício da Tropa do Falcão é imediata, dada a magnitude da traição e da dor infligida a Guts e Caska. No entanto, a persistência do apreço por sua figura reside na forma como sua narrativa desafia a moralidade simplista. Ele força o público a confrontar o conceito de que o carisma e a genialidade podem coexistir intrinsecamente com a depravação absoluta, um estudo de personagem que transcende a dicotomia fácil entre herói e vilão.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.