Análise das influências mitológicas em naruto: O caso de hidan e o fascínio por arquétipos ocidentais

A obra de Masashi Kishimoto, Naruto, é amplamente reconhecida por sua profunda imersão em temas e estéticas do folclore japonês e tradições orientais. No entanto, uma análise atenta aos personagens revela que as fontes de inspiração são mais cosmopolitas do que se imagina, abrangendo frequentemente elementos da mitologia ocidental.

Um dos personagens que mais suscita essa percepção é Hidan, membro da Akatsuki. Sua imortalidade e natureza ritualística sugerem paralelos com entidades ou figuras históricas presentes em narrativas europeias. A ideia de um ser que não pode ser morto, exceto por meios muito específicos ou após a destruição de seu artefato central, ecoa lendas de vampiros, demônios medievais ou até mesmo conceitos religiosos pagãos que buscam a eternidade através de rituais sombrios.

A Imortalidade Ritualística e os Paralelos com o Ocidente

Hidan pratica uma forma de imortalidade baseada em um ritual centrado em seu deus, Jashin. Essa adoração fanática e a subsequente recompensa de invulnerabilidade remetem a pactos demoníacos ou cultos esquecidos que prometiam poder em troca de devoção eterna. Enquanto muitos vilões de Naruto se baseiam em conceitos ninja ou folclore xintoísta, a completa devoção de Hidan a um credo que preza unicamente pela destruição e pelo sofrimento confere-lhe uma aura diferente, mais alinhada com tropos de horror gótico ou lendas de alquimistas obcecados pela vida eterna.

Contrariando a disciplina e a honra muitas vezes associadas aos samurais ou aos conceitos de bushidō, Hidan representa o caos e a devoção cega. Este arquétipo de antagonista, cuja força reside na sua resistência quase impenetrável, pode ser rastreado a figuras mitológicas ocidentais cuja única fraqueza era um detalhe minúsculo, diferentemente dos antagonistas orientais que geralmente sucumbem à fraqueza moral ou espiritual explícita.

Buscando Mais Influências na Galeria de Personagens

Ao expandir a investigação para outros membros do elenco, a mistura de influências torna-se mais evidente, embora talvez menos explícita que no caso de Hidan. Muitos ninjas utilizam técnicas que se assemelham a magias europeias. Por exemplo, o uso de invocações e a conversão de energia vital em poder (Chakra) pode ser comparado a sistemas de magia arcana.

Personagens como Orochimaru, obcecado pela imortalidade e pela busca por corpos novos, trazem à tona a figura do alquimista que tenta subverter a ordem natural, um tema recorrente na literatura europeia. A busca pela vida eterna, vista como uma transgressão, é um motor narrativo clássico que transcende fronteiras culturais, mas que possui raízes fortes nos mitos gregos, como o de Fausto, que vendeu sua alma ao diabo.

A riqueza de Naruto reside, em grande parte, nesta habilidade de Kishimoto em sintetizar tradições. O mangá consegue incorporar o misticismo oriental das lendas dos shinobi com a estrutura de fantasia e os arquétipos mais universais encontrados na mitologia grega, romana ou nas narrativas cristãs e pagãs europeias, criando um universo rico e multifacetado para os seus confrontos.