Análise: A persistente comparação entre black clover e naruto e o debate sobre plágio

A relação entre as séries de mangá e anime Black Clover, de Yuki Tabata, e o icônico Naruto, de Masashi Kishimoto, continua a gerar intensos debates na comunidade otaku. Desde o lançamento de Black Clover, uma narrativa recorrente é a acusação de que a obra seria um mero derivado ou cópia de Naruto, baseada em semelhanças superficiais de enredo e personagens.

O cerne da questão reside na comparação entre protagonistas com sonhos grandiosos, origens humildes e narrativas de superação. No caso de Naruto, acompanhamos Naruto Uzumaki, um jovem rejeitado que sonha em se tornar Hokage. Em Black Clover, Asta, um garoto sem nenhuma afinidade mágica em um mundo dominado pela magia, almeja ser o Rei Mago.

Estruturas arquetípicas no shonen

É fundamental analisar essas semelhanças sob a ótica da estrutura do gênero shonen, voltado para o público jovem masculino. Muitos dos tropos bem-sucedidos, como o desenvolvimento de um rival complexo (Sasuke/Yuno) e a jornada de treinamento intenso, tornaram-se pilares do gênero após o sucesso estrondoso de obras como Dragon Ball e, posteriormente, Naruto. Dizer que Black Clover é uma cópia ignora que muitas séries modernas utilizam arcos narrativos estabelecidos.

No entanto, apontar semelhanças estruturais não faz de Black Clover uma obra inferior ou plagiadora. A evolução da trama e a forma como Tabata trata certos temas mostram um desvio significativo. Enquanto Naruto foca intensamente em conceitos como honra ninja, legado e a superação de traumas de guerra, Black Clover concentra-se na meritocracia, no preconceito de classe social e na exploração da política dentro de um sistema de ordens cavalheirescas.

A identidade única de Asta e A Magia Demoníaca

A forma como Asta manifesta seu poder é um ponto crucial de diferenciação. Sua total ausência de magia, compensada pela posse de um grimório de demônio que lhe concede a Anti-Magia, subverte a premissa central de Naruto, onde o protagonista era um prodígio negligenciado no uso de sua habilidade inata. A Anti-Magia de Asta não é apenas um poder, mas uma negação do sistema estabelecido, permitindo-lhe cortar os feitiços, o que frequentemente o coloca em desvantagem criativa contra inimigos puramente mágicos.

A crítica que tenta desqualificar Black Clover unicamente por suas semelhanças iniciais com a saga do ninja negligenciado falha em reconhecer a vasta mitologia construída ao redor dos Reinos do Trevo e Touro Negro, e a complexidade crescente dos antagonistas ao longo dos arcos de Clover. A longevidade de uma propriedade intelectual no mercado de entretenimento muitas vezes depende da familiaridade de suas premissas, mas seu sucesso duradouro é determinado pela capacidade de inovar dentro dessas convenções. A discussão, portanto, deveria migrar da simples comparação temática para uma análise da execução artística e da capacidade narrativa de Yuki Tabata em criar um universo palpável e distinto, apesar das influências evidentes do gênero.