A aparente contradição sensorial dos onis: O caso do veneno de glicínia e a percepção de doma
Análise levanta questionamentos sobre a capacidade olfativa de onis, especificamente a falha de Doma em detectar Veneno de Glicínia em Shinobu Kocho.
Um ponto intrigante da fisiologia dos demônios, conforme retratada em obras de fantasia sombria, reside nas suas habilidades sensoriais exacerbadas. É amplamente estabelecido que essas criaturas possuem um olfato extremamente apurado, capaz de decifrar detalhes complexos através do cheiro de sangue e carne, incluindo tipo sanguíneo, laços de parentesco e a presença de doenças ou anomalias.
Essa acuidade sensorial é frequentemente utilizada como elemento narrativo crucial. Um exemplo notório dessa capacidade é visto na percepção de Doma, uma das luas superiores, que conseguiu identificar a ausência de laços de sangue diretos entre Kanao Tsuyuri e Shinobu Kocho apenas pelo odor, inferindo que Kanao não era irmã biológica da Hashira do Inseto.
A inconsistência olfativa frente ao veneno
Apesar dessa notável precisão sensorial, surge uma aparente contradição quando analisamos o confronto final envolvendo Shinobu Kocho. O veneno de glicínia (wisteria) é consistentemente apresentado como um dos poucos elementos que causam grande intolerância e até mesmo dano permanente aos onis, sendo a arma principal usada pela Corpo de Exterminadores de Demônios contra eles.
A lógica narrativa, fundamentada no poder olfativo estabelecido, sugere que deveria ser impossível para uma criatura com a sensibilidade de Doma não perceber a presença de uma substância tão potente e inerentemente repelente como o veneno de glicínia saturando o corpo de sua vítima. A glicínia, sendo uma toxina potente contra os onis, deveria emitir um odor ou uma aversão sensorial imediata e inconfundível.
O fato de Doma ter consumido Shinobu, ignorando o perigo evidente de estar ingerindo uma toxina conhecida por ser fatal para sua espécie, levanta questões fundamentais sobre os limites e a aplicação das regras biológicas impostas a esses seres sobrenaturais. Embora a estratégia de Shinobu envolvesse a distribuição do veneno através de seu próprio corpo e ataques rápidos, a exposição direta ao tecido contaminado deveria ter acionado um alarme sensorial imediato no demônio avançado.
Essa discrepância sugere uma possível flexibilização das regras de detecção sensorial em prol do impacto dramático ou da eficácia do plano da heroína. Enquanto a premissa inicial valoriza a capacidade olfativa dos onis como ferramenta de rastreamento e inteligência, o desenrolar do combate revela uma vulnerabilidade que parece ignorar a própria premissa sensorial estabelecida anteriormente. Explorar essa dualidade ajuda a entender como os roteiristas equilibram as forças dos antagonistas contra as táticas inovadoras dos protagonistas, mesmo que isso crie momentos de suspensão da descrença em relação à biologia apresentada.