A escala única de hunter x hunter: Como histórias menores definem um universo vasto

No universo dos animes e mangás, especialmente no gênero shonen, é comum que a escalada de ameaças atinja proporções cósmicas: a luta para salvar o planeta, o universo ou a própria realidade. No entanto, a obra de Yoshihiro Togashi, Hunter x Hunter, constrói seu impacto narrativo sobre uma base de escala surpreendentemente contida, uma característica que muitos admiradores identificam como um de seus maiores trunfos criativos.

Ao revisitar a série, observa-se que os arcos narrativos, mesmo os mais cruciais, raramente envolvem o destino da humanidade inteira. Em vez disso, os desafios permanecem focados em grupos específicos, regiões ou competições. O arco Greed Island, por exemplo, embora seja um ponto de virada importante para o desenvolvimento dos protagonistas, estabelece seus riscos em torno de um jogo de morte realizado em uma ilha isolada, longe dos holofotes de uma guerra mundial.

A contenção como ferramenta de expansão

Essa abordagem propositalmente limitada é o que paradoxalmente torna o mundo de Hunter x Hunter mais profundo e vasto aos olhos do leitor. Enquanto outras grandes franquias utilizam a ameaça de destruição total para justificar a importância dos heróis, Togashi opta por focar nas motivações díspares de personagens complexos e nas consequências imediatas de seus atos dentro de um ecossistema já estabelecido.

Até mesmo o arco das Formigas Quimera, que se aproxima da escala apocalíptica frequentemente vista no gênero, apresenta uma resolução que, no fim, é contida geograficamente e resolvida internamente pelas "forças competentes" do mundo Hunter. A ameaça potencial é tratada em um campo de batalha remoto, reforçando a ideia de que, por baixo da superfície de crises globais, existem estruturas de poder e problemas menores que continuam a se desenrolar sem alarde.

Essa moderação no escopo das ameaças permite ao autor dedicar tempo de qualidade para detalhar o sistema de Nen, as táticas de combate e as profundas nuances psicológicas dos antagonistas e protagonistas. A tensão não se constrói a partir da iminência do fim do mundo, mas sim da imprevisibilidade e da mortalidade real enfrentada pelos personagens em seus objetivos imediatos.

Essa qualidade narrativa, onde cada aventura parece ser apenas uma fatia da complexa realidade dos Hunters, sugere um mundo muito maior do que aquele que é retratado em tela ou página. A vastidão é transmitida pelas inúmeras histórias paralelas e pelas consequências de ações localizadas que ecoam suavemente pelo cenário, valorizando a jornada pessoal em detrimento do espetáculo de proporções inatingíveis. Essa maestria em equilibrar o pequeno e o grande define a longevidade e o apelo crítico da série.