A escassez do herói tradicional: Fãs buscam narrativa de ascensão sem atalhos no universo da fantasia
O nicho de fantasia medieval pura, com heróis comuns que crescem por esforço, parece ter desaparecido em meio a isekais e regressões, gerando busca por exemplos genuínos.
A paisagem da fantasia medieval no entretenimento contemporâneo, especialmente em animes, mangás e light novels, tem sido dominada por narrativas que subvertem tropos clássicos. Enquanto vilões se tornam protagonistas, demônios se aliam à luz e personagens ganham poderes através de retornos no tempo ou reencarnações, um tipo específico de história parece ter se tornado uma espécie rara: aquela que narra a ascensão de um herói genuinamente comum.
Observa-se um padrão recorrente onde a jornada heroica tradicional é interrompida ou significativamente alterada por mecanismos como loops temporais, conhecimento prévio do futuro (meta knowledge), sistemas de trapaça (cheats) ou o protagonista sendo uma reencarnação de alguém poderoso. Esses artifícios, embora populares, afastaram o público da premissa original do herói que nasce como uma pessoa normal em seu mundo, enfrenta provações reais e, unicamente através de seu esforço e mérito, se torna a salvação contra as ameaças globais.
O apelo da jornada sincera
O que se busca é a jornada heroica sincera, focada no desenvolvimento orgânico do personagem. Um herói que não possui vantagens injustas, nem é motivado por um desejo de vingança explícito, mas sim por um ideal de bondade e enfrentamento direto dos males do mundo. Esse modelo remete às narrativas clássicas de cavalaria e fantasia, mas que hoje são ofuscadas por narrativas de subversão.
Embora muitas obras subvertam o modelo, poucas se dedicam a honrar a estrutura original. Exemplos raros que ressoam com essa busca por autenticidade incluem o manhwa Stellar Swordsman, citado como um dos melhores casos por apresentar um protagonista que ascende naturalmente sem depender de loops ou reencarnações. Outro ponto de referência, embora limitado a flashbacks, é a representação do ideal heroico em personagens como Himmel em Frieren, que personifica o heroísmo puro, mas cuja história completa não é o foco central da narrativa atual.
A dificuldade em encontrar o arquétipo
A análise da produção recente mostra que mesmo obras que flertam com o heroísmo, como The Rising of the Shield Hero, frequentemente contêm elementos que o distanciam do arquétipo mais puro, apesar de apresentar um começo de azarão. A dificuldade em encontrar uma obra que evite todos os atalhos narrativos - sem regressão, sem sistemas de jogo, sem meta conhecimento e sem ser um anti-herói - evidencia uma saturação de artifícios no mercado de fantasia.
A atração por essa forma narrativa reside, possivelmente, na conexão mais profunda que o público pode estabelecer com um protagonista que enfrenta a adversidade sem garantia de sucesso facilitada. O crescimento conquistado através do esforço genuíno, inerente à essência da fantasia medieval clássica, contrasta com a gratificação instantânea proporcionada por poderes adquiridos em vidas passadas ou eventos sobrenaturais. A procura por esse 'herói do zero' sugere um desejo nostálgico por histórias onde o mérito pessoal é a única, e mais honrosa, ferramenta de transformação.