A escassez de animes e mangás com protagonistas adultos: Uma análise sobre narrativas na casa dos 20 anos

A representação da juventude no entretenimento japonês frequentemente converge para o ambiente escolar, deixando um vácuo significativo para histórias que abordam as complexidades da vida após a formatura. Pesquisas sobre produções animadas e quadrinhos revelam uma notável escassez de títulos onde os protagonistas navegam pelas incertezas e responsabilidades dos 20 e poucos anos.

Enquanto o período adolescente oferece um palco dramático natural para descobertas e formação de identidade, a transição para a vida adulta traz dilemas mais realistas e sutis, como a estabilidade profissional, relacionamentos duradouros e a definição de um propósito fora do sistema educacional. Esses temas, embora universalmente ressonantes, parecem raramente ser o foco central em grandes produções.

O nicho de narrativas da vida adulta

Algumas obras conseguem, pontualmente, capturar essa fase da vida com maestria. Um exemplo notável na animação é Eden of the East, que coloca seu protagonista, Takizawa Akira, em uma crise de identidade e responsabilidade enquanto tenta desvendar seu passado em meio a um jogo de sobrevivência urbana. A série explora como a liberdade recém-adquirida se choca com a necessidade de enfrentar o mundo real.

No campo do mangá, a obra Nana (criada por Ai Yazawa) é frequentemente celebrada por sua honestidade brutal ao retratar duas jovens tentando construir carreiras e amores em Tóquio, lidando com ambição, ciúmes e as pressões financeiras da vida independente. Outro exemplo potente, ainda que prioritariamente um mangá, é Solanin, de Inio Asano, que mergulha na melancolia e na busca por significado de um grupo de amigos recém-saídos da faculdade.

A beleza da introspecção tardia

A animação japonesa também reservou espaços importantes para a reflexão pós-acadêmica. O aclamado Tatami Galaxy, com sua estética visual única e ritmo acelerado, foca na retrospectiva de um estudante universitário que relembra seus anos de faculdade, mas sua essência está na pressão de fazer escolhas que definirão seu futuro imediato, um sentimento muito presente ao final dos vinte anos.

A atratividade dessas narrativas reside na sua proximidade com a experiência de muitos espectadores que já passaram do fervor adolescente. A ausência de clichês escolares permite que os roteiristas explorem questões existenciais mais profundas. O desafio é que tais narrativas exigem um desenvolvimento de personagem mais sutil e menos dependente de eventos externos grandiosos, algo que nem sempre se alinha com o formato serializado de muitos programas de televisão.

A demanda por mais histórias ambientadas nesse período da vida adulta jovem sugere um clamor do público por validação de suas próprias lutas atuais. Enquanto essas poucas pérolas existem, o cenário geral da produção de anime e mangá continua, em grande parte, voltado para períodos anteriores, aguardando novas obras que ousem desafiar a zona de conforto das tramas escolares.