A existência dos onis e o conhecimento público no Japão feudal sob a ótica do entretenimento

Análises sobre a narrativa que restringe a presença de demônios a áreas específicas do Japão e o nível de desconhecimento entre a população comum.

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Analista de Mangá Shounen

22/11/2025 às 19:54

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A ambientação de certas narrativas populares japonesas, especialmente aquelas que se passam em um Japão de época, frequentemente levanta questões interessantes sobre a geografia e a percepção social de elementos sobrenaturais, como os devoradores de homens conhecidos como onis. Observa-se um padrão em algumas dessas obras onde a presença dessas criaturas parece ser confinada a regiões geográficas bem delimitadas.

Isso sugere um cenário onde a ameaça dos onis não é uma constante nacional, mas sim um perigo localizado. Se as histórias retratam os demônios estritamente em certas províncias distantes, surge a indagação sobre o que sabia a população que residia nos grandes centros urbanos ou em outras áreas remotas do arquipélago japonês.

A distribuição da ameaça sobrenatural

Quando uma obra de ficção estabelece limites claros para a ocorrência de eventos fantásticos, ela naturalmente constrói um contraste entre os locais afetados e aqueles que vivem alheios a tal realidade. No contexto do Japão histórico, as viagens entre províncias podiam ser longas e trabalhosas. Dessa forma, é plausível que um aldeão ou morador de uma capital distante nunca tivesse tido contato direto ou relatos credíveis sobre a existência de onis.

A ausência de comunicação em massa, característica da época, reforçaria esse isolamento informativo. Enquanto a organização responsável pela caça aos demônios, como a organização de caçadores, opera em segredo ou em áreas específicas, a vida cotidiana na maioria das cidades continuaria seguindo seu curso normal, sem a sombra constante da ameaça demoníaca.

O conhecimento implícito e a ignorância percebida

Para a população não diretamente envolvida, os onis podem ter permanecido no campo do folclore e das lendas regionais, ao invés de serem encarados como uma ameaça real e imediata de segurança pública. Isso difere drasticamente da experiência daqueles que vivem perto das zonas de caça ou ataque dos seres.

Essa dicotomia narrativa permite que a história desenvolva tramas de mistério e escala épica, onde o desconhecimento dos civis sobre a verdadeira extensão do problema - a verdadeira natureza e o número de onis - se choca com a dura realidade enfrentada pelos protagonistas. A narrativa, portanto, explora a ideia de que o horror pode estar muito próximo, mas sua visibilidade depende fundamentalmente de onde se está e quem detém o conhecimento sobre o perigo.

A representação de um Japão onde o sobrenatural é segregado geograficamente oferece uma rica tapeçaria para a exploração do contraste entre o mundo ordinário e o oculto, fazendo com que a descoberta da verdade pelos personagens centrais tenha um impacto mais profundo sobre o espectador ou leitor.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.