A fascinação inicial com griffith em berserk e o prenúncio da tragédia
A jornada de novatos em Berserk frequentemente esbarra na admiração inicial por Griffith, ignorando o destino sombrio que o aguarda.
A apreciação de novos espectadores ou leitores pela obra Berserk, do mangaká Kentaro Miura, segue um padrão notavelmente recorrente e, para os veteranos, agridoce. Muitos se sentem imediatamente atraídos pela figura carismática de Griffith, líder da Banda do Falcão, especialmente durante a aclamada saga da Era Dourada, referenciada na adaptação animada de 1997.
A atração por Griffith é compreensível. Ele é apresentado como o epítome da ambição humana, dotado de uma beleza estonteante, carisma magnético e uma capacidade militar quase divina. Para quem começa a leitura ou assiste a essa fase inicial, ele representa a personificação do sonho e da liderança inquestionável. Suas motivações, embora complexas, parecem nobres em um mundo brutal, fazendo com que personagens como Guts cheguem a admirá-lo profundamente.
A Era Dourada e o véu da ambição
A narrativa da Era Dourada é cuidadosamente construída para maximizar o impacto emocional subsequente. Ela foca na ascensão meteórica de Griffith, seu desejo de possuir seu próprio reino, e a camaradagem que ele constrói com seus subordinados. Nessa fase, sua complexidade reside em equilibrar a genialidade tática com uma frieza calculista inerente à sua natureza. O público é levado a torcer por ele, a compartilhar suas vitórias e a entender o peso de seus sacrifícios.
Contudo, para aqueles familiarizados com o desfecho que se desenrola a partir do famoso Eclipse, ouvir um novato declarar seu amor ou admiração por ele carrega um peso melancólico. Essa reação inicial espelha a inocência perdida dos próprios membros da Banda do Falcão, que confiavam cegamente no seu líder antes que sua ambição o corrompesse completamente.
O contraste entre idealização e realidade
Essa dinâmica de idealização e subsequente horror é central para o impacto duradouro de Berserk. O fascínio inicial por Griffith serve como uma ferramenta narrativa poderosa para intensificar o choque da sua traição. A obra de Miura, que se inspira em temas sombrios da história e da filosofia, explora o custo da grandeza e como os ideais podem ser pervertidos em prol de um objetivo singular.
A beleza trágica de Berserk reside justamente na forma como ele constrói um dos seus personagens mais carismáticos para se tornar um dos vilões mais detestados da ficção. A empolgação inicial com o carisma de Griffith funciona como um lembrete sutil de que, na escuridão da Idade Média fantástica do mangá, a luz mais brilhante é frequentemente a que esconde a sombra mais profunda.