A ambiguidade moral de guts nos primeiros volumes de berserk fascina novos leitores
A jornada inicial do protagonista de Berserk, Guts, frequentemente surpreende quem se aproxima da obra pela primeira vez, levantando questionamentos sobre seu papel de herói.
A obra épica de Kentaro Miura, Berserk, apesar de consagrada por sua profundidade e complexidade, consegue sempre intrigar aqueles que iniciam sua leitura, especialmente no que tange à figura central de Guts. Para um observador recente, imerso nas páginas iniciais do mangá, a percepção do protagonista pode desviar drasticamente da imagem tradicional de um herói de fantasia.
Os arcos iniciais, marcados por violência crua e um contexto de guerra implacável, moldam Guts como uma figura sombria. Há momentos em que a linha que separa o protagonista do antagonista parece tênue. Essa ambiguidade moral, frequentemente sentida ao acompanhar o jovem Guts em suas primeiras batalhas e interações, é um ponto de discussão recorrente entre os iniciantes na série.
O peso da sobrevivência na formação do Mercenário
O ambiente onde Guts é forjado, desde o nascimento sob a forca até sua vida como mercenário, justifica essa aura de frieza e, por vezes, crueldade. A violência não é um mero espetáculo narrativo; ela é a linguagem primária de seu mundo. Quando Guts se reencontra com Puck, o pequeno elfo, essa faceta anti-heróica se manifesta claramente. Ele projeta uma energia que muitos interpretam como inerentemente maligna, um reflexo de sua necessidade constante de autopreservação em um mundo que só lhe ofereceu dor.
Essa estranheza inicial é crucial para entender o desenvolvimento posterior do personagem. O Guts que encontramos no volume um não tem as amarras éticas que seriam esperadas de um cavaleiro. Ele é um sobrevivente pragmático, movido por instintos aguçados, e não por um ideal de justiça. Para quem está acostumado com narrativas onde o protagonista demonstra nobreza desde cedo, a postura inicial de Guts pode soar quase vilanesca.
Contraste com a Fantasia Tradicional
Enquanto muitas narrativas de fantasia apresentam heróis destinados à grandeza moral, Berserk subverte essa expectativa ao forçar o leitor a aceitar um protagonista falho e, por vezes, brutal. A fascinação, justamente, reside em acompanhar a lenta e dolorosa transição de Guts de uma máquina de matar autodestrutiva para algo mais próximo de um defensor, embora sempre carregado pelo seu passado traumático.
A impressão de que Guts emana um ar “maligno” é uma reação direta ao seu isolamento emocional e à forma como seu código de conduta foi ditado pelo campo de batalha. A narrativa de Miura explora magistralmente como o trauma extremo pode desfigurar a moralidade, forçando o leitor a questionar o que realmente significa ser um herói em um universo tão sombrio quanto o de Berserk. A obra demonstra que o caminho para o heroísmo pode começar no mais profundo cinza moral.