Investigação italiana sobre 'safáris de snipers' na bósnia ecoa temas sombrios de ficção

Promotores italianos abriram uma investigação sobre alegações perturbadoras que remontam à Guerra da Bósnia. O inquérito foca em indivíduos abastados, incluindo cidadãos italianos, que supostamente teriam pago valores significativos para participar de atividades conhecidas como sniper safaris, envolvendo a caça e o abate de civis desarmados perto da sitiada Sarajevo.

Essas denúncias, trazidas à luz pelo jornalista Ezio Gavazzeni, descrevem um cenário em que turistas estrangeiros pagavam quantias elevadas para se posicionarem em colinas controladas pelas forças sérvias e atirar contra homens, mulheres e crianças na cidade sitiada. Testemunhas indicam que o preço do assassinato variava conforme a idade e o gênero da vítima, tratando a violência extrema como um esporte mortal.

A ligação com a ficção e a realidade do horror

A natureza dos supostos crimes levanta paralelos preocupantes com narrativas ficcionais distópicas. Um dos ecos mais notórios é com o Incidente do Vale de Deus (God Valley), uma passagem sombria na obra de mangá One Piece, onde a elite mundial, os Dragões Celestiais, organiza uma competição de caça humana contra inocentes para seu próprio entretenimento. A semelhança reside na mercantilização da vida humana e no papel dos ricos como predadores espectadores.

Essa investigação, conduzida pelo Ministério Público antiterrorista de Milão, foca em trazer à luz a possível cumplicidade ou conhecimento das autoridades da época. Relatos sugerem que a inteligência da Bósnia teria alertado o serviço de inteligência militar italiano, o SISMI, sobre tais atividades em 1994. A resposta reportada teria sido de minimização e aparente inação, com a alegação de que a prática havia sido encerrada.

O peso das mortes em Sarajevo

O cerco de Sarajevo foi um dos capítulos mais longos e brutais da guerra moderna, resultando na morte de mais de 11.000 civis. Se as acusações sobre os safáris de snipers se confirmarem, isso significaria que uma parcela dessas fatalidades foi resultado direto de um passatempo sádico e custoso para forasteiros. O fato de envolver cidadãos italianos torna a investigação particularmente sensível para as autoridades daquele país.

O escândalo expõe o extremo da desumanização que pode ocorrer em zonas de conflito, onde o limiar entre guerra, espetáculo e lucro se esvai. A investigação atual busca estabelecer responsabilidades e documentar como a elite financeira pôde aparentemente orquestrar ou participar de tais atrocidades sob o véu do conflito armado.