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A jornada de guts em berserk: A evolução de uma personalidade complexa além da fúria inicial

A recente imersão de novos leitores em Berserk levanta um debate central: a figura de Guts amadurece ou suaviza seu temperamento agressivo no início da obra?

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Analista de Mangá Shounen

09/11/2025 às 22:16

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A narrativa épica de Berserk, criada pelo mestre Kentaro Miura, frequentemente impõe aos recém-chegados um desafio inicial: a personalidade do protagonista, Guts. Para aqueles que acabam de começar a acompanhar a saga, especialmente nos volumes iniciais focados no Arco da Era de Ouro, a conduta de Guts é marcada por um isolamento extremo e uma agressividade cortante com todos ao seu redor.

Essa fase inicial, na qual Guts se define fundamentalmente pela sua força física e pela recusa em aceitar laços emocionais, é crucial para entender o trauma subjacente do personagem. Ele age como um lobo solitário, um mercenário movido puramente pela sobrevivência e, mais tarde, por um caminho de vingança pessoal brutal. A questão que emerge é se essa hostilidade constante é uma característica fixa de seu ser ou uma fase transitória, moldada pelas circunstâncias terríveis que ele enfrenta.

O peso do passado e a construção do protagonista

Analisar Guts sem considerar o contexto é negligenciar a profundidade de Berserk. A vida de Guts, desde o nascimento, foi um ciclo de violência e abandono. Crescer sob a sombra de mercenários e ser subsequentemente explorado molda uma armadura psicológica tão espessa quanto sua icônica armadura negra. Essa atitude defensiva, muitas vezes percebida como mera grosseria pelos leitores iniciantes, na verdade funciona como um mecanismo de autoproteção extremo.

A obra de Miura é notável por não temer apresentar seus heróis com falhas profundas e comportamentos moralmente ambíguos. Guts, em muitas ocasiões, é impiedoso e cego pela sua própria dor. Isso o torna um personagem extremamente humano, apesar de sua força sobre-humana ser comparável a um titã da mitologia.

A influência das relações interpessoais

O desenvolvimento do personagem em histórias de longa duração raramente é linear. Na jornada de Guts, o catalisador para qualquer potencial suavização de suas arestas está diretamente ligado às pessoas que ele permite entrar em seu mundo. Ao formar laços com a Banda do Falcão, por exemplo, ele é forçado a confrontar a ideia de pertencer a algo maior do que a si mesmo. Mesmo que ele se mantenha arredio e sarcástico, a simples presença de figuras como Griffith e Casca começa a forçar fissuras em sua muralha emocional.

Para o espectador que busca uma redenção rápida ou uma mudança completa de caráter, a experiência pode ser frustrante. Contudo, o autor prefere a evolução sutil, baseada em sacrifícios e perdas, onde a humanidade de Guts emerge não por desistir de lutar, mas por encontrar por quem ou pelo que vale a pena lutar. A complexidade reside justamente em ver como o trauma reage ao afeto genuíno, um tema central que permeia toda a obra de Kentaro Miura, mantendo o personagem fascinante mesmo quando suas ações são questionáveis.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.