O paradoxo visual de griffith: A beleza quase angelical em contraste com suas ações sombrias
A estética de Griffith em Berserk é um estudo de caso sobre contraste, onde sua aparência etérea esconde uma personalidade complexa e cruel.
O design de personagens no universo de Berserk, criado por Kentaro Miura, há muito tempo é celebrado por sua profundidade temática, mas poucos exemplos são tão impactantes quanto a figura de Griffith. Sua estética transcende a simples beleza, apresentando um visual quase angelical que estabelece uma dissonância poderosa quando confrontada com a magnitude de suas ações na narrativa.
A dicotomia estética e moral
A maneira como Griffith é retratado visualmente, especialmente em seus estágios iniciais e após seu renascimento como Femto, explora um conceito fascinante de design de caráter: a discrepância radical entre a forma física e a essência moral. Ele possui traços delicados e uma aura de pureza inquestionável, características que historicamente são usadas para representar heróis ou figuras benevolentes em muitas mídias.
Essa aparência inicial gera uma desconexão imediata no observador. A beleza superficial e a aparente inocência de Griffith funcionam quase como uma isca, tornando a revelação de sua ambição ilimitada e dos atos terríveis que ele comete para alcançá-la ainda mais chocante. Essa justaposição é um pilar fundamental para o terror psicológico presente na obra.
Análise do arquétipo do anjo caído
No campo do design narrativo, utilizar a beleza para mascarar a monstruosidade é uma técnica antiga, mas em Berserk ela é levada ao extremo. Griffith encarna o arquétipo do anjo caído de forma literal e figurada. Seu visual remete à iconografia cristã de perfeição celestial, o que intensifica o impacto da sua natureza demoníaca subsequente, ligada ao conceito de Mão de Deus e sua transformação final.
Alguns apreciadores da obra debatem se o Griffith que conhecemos e o ser que emerge após o Eclipse, conhecido como Femto, são entidades separadas ou meras manifestações do mesmo desejo destrutivo. Independentemente dessa interpretação, o contínuo visual de beleza impecável em Griffith, mesmo após atos de traição indescritíveis, reforça a ideia de que a aparência pode ser a mais eficaz das ilusões.
A maestria de Miura reside em tornar essa figura tão atraente quanto repulsiva. A atração, muitas vezes descrita como quase idolatria, que ele inspira em outros personagens dentro da história, espelha a admiração inicial que o público nutre por ele. Essa dualidade define sua trajetória como um dos antagonistas mais memoráveis e complexos da ficção japonesa, solidificando o design de Griffith como um exemplo supremo de caracterização visualmente contraditória, onde a imagem contrasta violentamente com a depravação da alma exposta.