Perspectivas alternativas desafiam o status de obra-prima de berserk, focando na arte como principal motor
Uma análise contrapõe a profundidade narrativa de Berserk, sugerindo que seu sucesso depende majoritariamente da excelência artística de Kentaro Miura.
A obra Berserk, criada pelo falecido Kentaro Miura, é universalmente aclamada como um marco na história dos mangás, frequentemente citada por sua narrativa épica e temas profundos. Contudo, interpretações mais céticas sugerem que o reconhecimento massivo da série pode estar desproporcionalmente ligado ao seu legado visual, questionando a substância intrínseca da trama sem a beleza de seus traços.
O argumento central apresentado por essa visão crítica é que, removendo-se o trabalho gráfico excepcional de Miura, o que resta seria essencialmente uma história de vingança sombria localizada em um cenário de fantasia medieval. A excelência da ilustração, nesse contexto, seria o pilar que sustenta o interesse do público em uma narrativa que, despojada, poderia ser classificada como excessivamente focada no estilismo sombrio, o chamado edginess.
O Eclipse: Ação versus Profundidade Narrativa
Um dos momentos mais reverenciados da série, o evento conhecido como o Eclipse, é frequentemente destacado como um ápice de construção dramática. Essa visão crítica reinterpreta esse evento, sugerindo que sua força reside mais no impacto visual e no choque promovido pelas imagens perturbadoras criadas por Miura do que em uma construção narrativa verdadeiramente complexa. Para esses observadores, o clímax da Saga da Era de Ouro seria mais um exercício de valor de choque bem executado visualmente do que um ponto de virada narrativo profundo.
Ademais, há quem defenda que o pico criativo da obra já teria sido atingido durante a já citada Era de Ouro. As etapas posteriores da história seriam vistas com reserva, como se apresentassem uma deriva para um conteúdo mais voltado ao auto-serviço dos fãs, diminuindo a coesão temática estabelecida anteriormente.
A Função de Casca no Enredo
Um ponto sensível levantado na análise é o papel da personagem Casca. Enquanto muitos leitores a veem como um símbolo de resistência ou uma figura complexa tragicamente afetada, a interpretação contrária sugere que sua profundidade é exagerada. Nessa ótica, Casca seria primariamente um catalisador emocional, uma ferramenta de enredo projetada especificamente para motivar as ações do protagonista, Guts. A santificação do seu papel no cânone da obra seria vista como uma proteção a uma construção de personagem que, em última análise, serve a uma função mais limitada.
Ao comparar o legado de Berserk com outras narrativas populares recentes no mundo dos quadrinhos japoneses, como My Hero Academia (MHA), esta perspectiva sugere que, se avaliados estritamente pelos méritos da construção de história e desenvolvimento de personagens em um sentido mais amplo, outras séries contemporâneas poderiam apresentar estruturas mais robustas, independentemente do impacto artístico inegável de Miura em sua série.