A impossibilidade do perdão: O preço da redenção de griffith em berserk
Exploramos o dilema moral central de Berserk: o que seria necessário para perdoar Griffith após o Eclipse e o sacrifício?
O destino trágico de Griffith, o outrora idealizado líder da Tropa do Falcão, levanta uma das questões éticas mais complexas no universo de Berserk: seria o perdão uma possibilidade, e qual seria seu preço?
A traição monumental perpetrada por Griffith durante o Eclipse, que culminou no sacrifício de seus companheiros para alcançar o poder divino como Femto, deixou cicatrizes profundas, especialmente em Guts e Casca. A mera possibilidade de absolvição, excluindo a morte ou anulação do evento como um todo, exige uma barganha que transcende o material, mergulhando no impossível.
As exigências para a reparação de um mal incalculável
A análise das condições necessárias para um possível perdão revela a magnitude da ofensa cometida. Não se trata de simples desculpas ou compensações financeiras; é necessária uma reversão quase teológica dos fatos.
Entre as demandas mais extremas levantadas para sequer considerar a aceitação das ações de Griffith, destacam-se:
- A ressurreição completa de todos os membros da Tropa do Falcão sacrificados no ritual.
- A restauração física de Guts, devolvendo-lhe o braço e o olho perdidos na batalha contra Femto.
- O desvínculo total de Casca, devolvendo-lhe a sanidade e libertando-a de qualquer laço psíquico ou espiritual estabelecido sobre ela.
- Transparência total perante o reino, forçando Griffith a confessar publicamente a verdade sobre seus atos e seus métodos.
- A justificação racional de seu reinado atual, demonstrando que sua permanência no poder é um benefício inegável para o bem-estar global, superando o horror de sua ascensão.
Essas condições expõem o cerne da questão: o perdão, neste contexto, não é um ato de esquecimento, mas sim de retificação completa. Griffith teria que desfazer a própria essência de sua ascensão, que foi construída sobre a dor e a violação.
O peso da ambição de Griffith
A figura de Griffith, em sua nova encarnação como o rei idealizado que anseia por um mundo pacífico sob seu comando, é um estudo de caso em ambiguidade moral. Ele alcança seus objetivos, mas ao custo da humanidade de si mesmo e de seus amigos mais próximos. Seus defensores poderiam argumentar que ele se tornou um catalisador necessário para um futuro estável, um sacrifício supremo para a ordem mundial, comparável a figuras históricas que cometeram atrocidades em nome de um bem maior, embora a escala cósmica dessa ação em Berserk seja incomparável.
No entanto, a natureza do ato - a escolha deliberada de torturar e destruir aqueles que o amavam em prol da ambição pessoal - cria um abismo que poucas ações positivas poderiam preencher. A natureza desse debate reflete a profundidade da escrita de Kentaro Miura e a forma como ele força os leitores a confrontar a diferença entre sacrifício pelo bem comum e traição egoísta.