A representação de etnias e preconceitos no universo sombrio de berserk

A complexidade moral de Berserk levanta questões sobre a representação de grupos étnicos e possíveis conotações racistas em seus personagens e culturas.

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Analista de Mangá Shounen

21/12/2025 às 14:10

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A representação de etnias e preconceitos no universo sombrio de berserk

A obra magistral de Kentaro Miura, Berserk, é notória por sua exploração implacável da natureza humana, da guerra e da moralidade ambígua. No entanto, a ambientação de fantasia medieval do mangá, repleta de reinos, povos e bestas, inevitavelmente convida a uma análise sobre como diferentes grupos étnicos são retratados e se há espaço para interpretações de preconceito racial dentro dessa tapeçaria complexa.

Ao mergulhar no mundo de fantasia, que mistura influências europeias medievais com elementos fantásticos, surgem discussões sobre a caracterização de certas culturas na narrativa. O universo de Berserk é vasto, apresentando o Reino de Midland, o Império Kushan, e as nações setentrionais e orientais, cada uma com suas particularidades visuais e sociais.

A caracterização do Império Kushan

Um dos grupos mais significativamente distintos em termos de origem étnica percebida são os habitantes do Império Kushan. Apresentados com características que evocam o sul da Ásia ou o Oriente Médio em termos de iconografia e armamentos - especialmente a cavalaria e os deuses adorados -, os Kushan são frequentemente associados a uma cultura de conquista e misticismo, contrastando com o feudalismo ocidental de Midland.

A questão central que permeia a análise de fãs e críticos não é se Miura intencionalmente escreveu personagens com preconceito explícito contra minorias, mas sim se a criação destes grupos étnicos se baseia em estereótipos culturais que, por vezes, ecoam preconceitos históricos do mundo real. Por exemplo, a associação da cultura Kushan ao fervor religioso e à expansão militar rigorosa pode ser vista, sob uma luz crítica moderna, como um reflexo de tropos exóticos utilizados em narrativas ocidentais.

Temas de alteridade e demonização

É crucial contextualizar que, em Berserk, a alteridade - a diferença entre os grupos - é uma ferramenta narrativa poderosa, mas muitas vezes carregada de violência e desumanização. Os conflitos não são apenas por terra ou poder, mas também por crenças e identidade cultural.

No entanto, a narrativa de Miura também subverte muitas expectativas. Se há um grupo amplamente demonizado, este tende a ser a própria humanidade em meio ao caos, ou os membros do God Hand, que representam uma ameaça sobrenatural que transcende qualquer distinção étnica humana. Personagens de diferentes origens, como Guts (de Midland) e seus companheiros, frequentemente formam laços que ignoram barreiras de nascimento ou cultura, focando na lealdade pessoal.

Essa dualidade complexa faz com que qualquer análise sobre racismo em Berserk requeira cautela. O foco principal da obra reside nas dinâmicas de poder, destino e sacrifício, utilizando a diversidade de povos fantasiosos como pano de fundo para sublinhar a brutalidade universal dos conflitos humanos e sobrenaturais. A interpretação de conotações raciais permanece um ponto de debate, refletindo mais sobre como o leitor moderno aplica lentes sociais contemporâneas a mundos de fantasia com raízes históricas diversas.

An

Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.