A representação realista da menstruação em berserk destaca-se na cultura pop e na narrativa de fantasia

O mangá Berserk, criado pelo falecido Kentaro Miura, tem sido frequentemente analisado por sua complexidade temática e pela profundidade de seu universo sombrio e violento. Recentemente, um aspecto específico da obra tem recebido reconhecimento por sua abordagem madura: a maneira como ela retrata a menstruação de suas personagens femininas.

Em um gênero dominado por narrativas de batalhas épicas e elementos sobrenaturais, a inclusão de processos biológicos realistas, como o ciclo menstrual, é uma ocorrência rara. A representação em Berserk, contudo, foge dos estereótipos ou da omissão, integrando este fenômeno fisiológico de forma orgânica à vida das personagens, evidenciando um cuidado notável com a autenticidade humana inserida em um contexto de fantasia medieval sombria.

O realismo em meio à escuridão

A narrativa visual de Miura não hesita em detalhar as dificuldades e as realidades da vida, e isso se estende ao corpo feminino. Ao abordar a menstruação, a obra demonstra um entendimento que vai além da simples menção. Há um reconhecimento das consequências físicas e sociais que este evento impõe, especialmente em um ambiente onde o conforto e a higiene são luxos escassos.

Essa abordagem se alinha com o tom geral de Berserk, que nunca se esquiva de mostrar a nudez, o sofrimento físico e a vulnerabilidade inerentes à condição humana, mesmo quando os personagens estão envolvidos em lutas contra entidades demoníacas ou forças sobrenaturais. A inclusão respeitosa da menstruação, portanto, serve como um lembrete da fragilidade humana contrastada com a brutalidade do mundo criado por Miura.

Um contraste na literatura de fantasia

A fantasia épica, em geral, tende a idealizar ou simplificar as personagens femininas, muitas vezes as relegando a papéis de damas em perigo, guerreiras idealizadas, ou figuras puramente mágicas. Quando ciclos biológicos são abordados nesses contextos, frequentemente são tratados como um impedimento, uma fraqueza a ser superada rapidamente para que a ação prossiga.

A obra de Miura, por outro lado, parece tratar a menstruação como uma faceta neutra, porém importante, da experiência feminina. Essa normalização em uma narrativa de tamanha magnitude é vista como um marco importante na representação de corpos femininos no entretenimento japonês. É um detalhe que auxilia na construção de personagens mais tridimensionais, permitindo que o leitor ou espectador conecte-se com a humanidade delas, mesmo diante de elementos fantásticos.

A atenção aos detalhes fisiológicos, como a menstruação, solidifica a visão de mundo de Berserk, onde mesmo a luta pela sobrevivência é permeada por necessidades e vulnerabilidades muito terrenas. O legado de Kentaro Miura, assim, abrange não apenas seu impacto no gênero dark fantasy, mas também sua sutil, porém significativa, contribuição para a representação autêntica da experiência feminina na ficção.