A sobrevivência metafórica de giyuu e sanemi em kimetsu no yaiba: Uma análise de propósito narrativo
A permanência de Giyuu Tomioka e Sanemi Shinazugawa após o confronto final gera questionamentos sobre o simbolismo da autora.
A conclusão da saga de Kimetsu no Yaiba (Demon Slayer) deixou um rastro de reflexões sobre o destino final dos protagonistas. Enquanto a maioria dos Hashiras sucumbiu ao sacrifício supremo contra Muzan Kibutsuji, a manutenção da vida de Giyuu Tomioka e Sanemi Shinazugawa, tecnicamente, gerou debates intensos sobre a intenção por trás dessa escolha narrativa.
A questão central não reside na viabilidade física de suas sobrevivências, dadas as feridas sofridas, mas sim no porquê a autora, Koyoharu Gotouge, optou por poupá-los, diferentemente de outros pilares que encontraram seu fim honroso após cumprirem suas missões de vingança ou dever.
O peso da vingança e a permanência de Sanemi
Sanemi Shinazugawa, o Hashira do Vento, personificou a fúria contra os demônios, impulsionada pela tragédia de sua mãe. Narrativamente, seria plausível que sua morte viesse como o ápice de sua vingança, um sacrifício sangrento contra a origem de seu sofrimento. No entanto, sua sobrevivência abre espaço para uma interpretação diferente.
A permanência de Sanemi sugere uma transição de vida. Se seu propósito inicial era destrutivo e reativo, sobreviver o implica em testemunhar um mundo pós-conflito, forçando-o a lidar com o luto e a reconstrução sem a necessidade constante da batalha. Ele se torna um elo com a ferocidade do passado, necessário para valorizar a paz alcançada.
Giyuu Tomioka: Isolamento e redenção
Giyuu Tomioka, o Hashira da Água, já carregava um fardo emocional distinto, marcado pela culpa da sobrevivência de Sabito e pela dificuldade em aceitar seu lugar como sucessor de Urokodaki Sakonji. Sua jornada pessoal foi menos sobre vingança explícita e mais sobre encontrar um propósito que justificasse sua existência entre os mais fortes.
Manter Giyuu vivo, apesar de suas extensas perdas e ferimentos, parece reforçar a ideia de que sua redenção ou aceitação de seu valor não terminou com a derrota de Muzan. Ele representa o personagem que precisava viver para finalmente se libertar do peso do passado. Sua existência contínua oferece um contraste com a maioria dos Hashiras, que encontraram seu propósito final na morte heroica.
A importância dos sobreviventes no novo mundo
A decisão de manter Giyuu e Sanemi vivos, enquanto outros, como Muichiro Tokito e Gyomei Himejima, alcançaram a paz através do sacrifício total, destaca a diferenciação de papéis na fase de reconstrução. Enquanto alguns pilares foram necessários para garantir a vitória mesmo que custasse suas vidas, os sobreviventes têm a função simbólica de serem os guardiões memoriais e os pilares de uma nova era.
A ausência de um fechamento definitivo sobre suas vidas pós-morte, como a de Tanjiro, convida o espectador a imaginar o futuro para aqueles que carregaram cicatrizes profundas, mas que ainda sustentam a esperança de um mundo livre de demônios. A autora parece ter optado por preservar esses dois indivíduos turbulentos para refletir sobre a continuidade da vida após o trauma extremo, um aspecto fundamental na narrativa de Japão pós-guerra.
Analista de Mangá Shounen
Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.