A transformação de griffith em berserk: Uma análise sobre causalidade e a natureza da ambição

A trajetória de Griffith, um dos personagens mais cruciais e controversos da aclamada obra Berserk, de Kentaro Miura, permanece um ponto central de fascínio e debate. A questão fundamental reside em entender o ponto de inflexão que levou este líder carismático e visionário a uma transformação radical, culminando em sua ascensão como Femto e o subsequente sacrifício da Tropa do Falcão.

O paradoxo entre o ideal e o abismo

Griffith, em sua fase inicial, personificava a força motriz da ambição pura. Seu sonho de possuir um reino, de ser reconhecido acima de todos, parecia ser alimentado por uma força de vontade inabalável. Muitos se perguntam se essa ambição, por si só, era um presságio de sua ruína. O personagem era movido por um desejo profundo de transcender sua condição humana, buscando um status divino ou, pelo menos, absoluto.

A natureza dessa queda é frequentemente interpretada sob a ótica da causalidade, um conceito central no universo de Berserk. A causalidade sugere que certos eventos são preordenados, tecidos em uma rede que governa a realidade. A atuação de Griffith, apesar de parecer uma escolha pessoal, poderia ser meramente uma peça necessária em um plano maior, orquestrado por entidades como a Mão de Deus.

A influência do destino e o 'Mal' cósmico

A dúvida persiste: Griffith se tornou um monstro por ser intrinsicamente mau desde o início, ou sua condição o forçou a aceitar a natureza destrutiva do destino para alcançar seu sonho? A entrega ao Eclipse é vista por alguns como o ápice da desesperança, o ponto onde a resistência contra as forças cósmicas se tornou inviável, resultando na adoção do caminho mais rápido e aterrorizante para a concretização de seu desejo.

A ideia de que Griffith estaria lutando contra a causalidade, mas falhou catastroficamente, contrasta com a visão de que ele sempre foi um instrumento do Mal. Suas ações subsequentes, como a criação da Nova Tropa do Falcão e sua postura estoica, parecem confirmar uma indiferença total à dor humana, sugerindo que a humanidade que ele um dia demonstrou era apenas uma fachada necessária para reunir poder.

Essa dualidade - o líder que inspirava lealdade fervorosa e o ser que se tornou um arquiteto de sofrimento - reflete a maestria narrativa do criador da série. A análise das motivações de Griffith oferece um estudo profundo sobre o preço do poder absoluto e se a busca incessante por um objetivo pode justificar qualquer sacrifício, mesmo que esse sacrifício envolva trair tudo o que se pregava anteriormente. O mistério sobre se ele representa o triunfo da ambição sobre a moralidade ou a inevitabilidade do destino como uma força opressora continua a moldar a interpretação da saga.