As complexas transformações psicológicas de guts em berserk: Da fúria inicial à nobreza pós-eclipse
A jornada de Guts em Berserk expõe profundas mudanças de personalidade que confundem novos leitores após o fatídico Eclipse.
A conclusão da leitura de Berserk, a aclamada obra de Kentaro Miura, frequentemente deixa os novos admiradores com sentimentos intensos e, por vezes, dúvidas sobre a evolução de seus protagonistas. Um ponto central de debate reside na notável discrepância de comportamento do protagonista, Guts, antes e depois do violento evento conhecido como o Eclipse.
No início da saga, especificamente durante o arco do Espadachim Negro, Guts exibe uma persona marcada pela vingança pura e destrutiva. Sua conduta é frequentemente rude, impiedosa, e permeada por uma filosofia agressiva, expressa em frases como o desprezo pelo fraco. Este Guts é uma máquina de combate, movido por um ódio visceral que o leva a cometer atos extremos, incluindo interações sexualmente agressivas com seres demoníacos, reflexo de seu trauma e da perda de sua humanidade durante a Tragédia.
A metamorfose pós-Eclipse
Contudo, após um período de severo sofrimento e integração com novos companheiros, a personalidade de Guts transiciona drasticamente. Muitos leitores notam que, nos arcos subsequentes, ele adota uma postura mais respeitosa e cautelosa, demonstrando lealdade e um código moral mais reconhecível, mesmo que sua missão central permaneça a mesma. Essa transformação sugere que o ciclo de dor e o convívio com aliados genuínos - como Casca, Farnese, Serpico e Isidro - permitiram que resquícios de sua antiga bondade nuclear emergessem, mitigando a escuridão absoluta imposta pelo Behelit de sacrifício.
O dilema de Puck e o alívio cômico
A complexidade narrativa, embora amplamente celebrada, não está isenta de críticas por parte dos recém-chegados. Um ponto de fricção comum envolve o personagem Puck. Apreciado em seus estágios iniciais como um contraponto essencial à escuridão, a representação posterior de Puck, frequentemente reduzida a um alívio cômico em sua forma mais rechonchuda, parece desviar do arco emocional que a obra exige. Embora seja compreensível que tais elementos sirvam como válvula de escape para o criador, a mudança tonal pode desagradar quem buscava maior profundidade ou consistência emocional na figura do pequeno elfo.
Mistérios remanescentes: Griffith e o Filho da Lua
Por fim, a entidade conhecida como 'Filho da Lua' (Moon Child) gera confusão significativa para quem termina a leitura sem a devida contextualização. Este ser, ligado a Casca, é uma manifestação complexa que orbita o destino de Griffith. A relação entre os dois não é simplesmente uma posse corporal. O 'Filho da Lua' é o resultado direto do sacrifício no Eclipse, uma entidade que carrega vestígios da inocência perdida de Casca, entrelaçada ao renascimento de Griffith como Femto. Essencialmente, ele representa o último elo remanescente de pureza ligado à casca física, embora sua existência esteja intrinsecamente ligada à nova forma demoníaca de Griffith, servindo como um catalisador para a reaproximação com sua antiga amada.
A riqueza temática de Berserk reside justamente nesses contrastes profundos, explorando o que resta da humanidade após a perda total e como o trauma molda - ou reforma - um herói lendário como Guts.