A polêmica sobre o trauma de griffith: Análise da tortura e suas implicações na narrativa de berserk

A trajetória de Griffith, figura central na obra Berserk de Kentaro Miura, é marcada por ambição incomparável e uma transformação extrema. Contudo, um ponto de inflexão particularmente sombrio, os meses de tortura sofridos nas masmorras do Reino de Midland, continua a ser tema de profunda reflexão entre os observadores da narrativa.

O período em que Griffith esteve aprisionado após a derrota na Batalha de Doldrey é explorado com um realismo chocante na série. O foco da análise recai sobre a natureza exata dos abusos físicos e psicológicos infligidos ao ex-Comandante, e se esses eventos incluíram violência sexual explícita, um elemento que, embora não totalmente detalhado visualmente na obra, é sugerido pelas consequências devastadoras.

A violação da identidade e do corpo

A tortura, por si só, foi projetada para quebrar o indivíduo mais do que o corpo. Para Griffith, cuja identidade e poder residiam em sua aparência impecável e no controle absoluto sobre sua imagem, a mutilação e a humilhação representaram a aniquilação de tudo o que ele havia construído. A perda de movimentos, a degradação física e a incapacidade de se comunicar atacaram diretamente a essência de seu ser.

A descrição do estado físico de Griffith ao ser resgatado, com um corpo esquelético e incapaz de sustentar-se, é suficiente para ilustrar a profundidade do sofrimento. A discussão sobre a violação sexual, ainda que ambígua no material original, serve como um catalisador para entender a profundidade do desespero que levou Griffith a aceitar o sacrifício da Banda do Falcão durante o Eclipse. A ausência de dignidade física potencializa a ideia de que Griffith atingira o ponto mais baixo da existência humana, pavimentando o caminho para a ascensão como Femto.

Contextualizando o trauma na narrativa

É fundamental observar que a reação de Griffith após o cativeiro define sua subsequente mudança de caráter. Ele não busca vingança contra seus torturadores no sentido tradicional; ele busca poder acima de tudo. Alguns interpretam a intensidade da tortura, incluindo a possibilidade implícita de agressão sexual, como o fator final que o desumanizou completamente, tornando-o capaz de cometer o sacrifício.

A crueldade inerente ao universo de Berserk, criado por Kentaro Miura, frequentemente utiliza o sofrimento extremo como ferramenta narrativa para motivar atos de grandeza ou monstruosidade. No caso de Griffith, o tempo na prisão funcionou como sua própria forja infernal, transformando um humano ambicioso em uma entidade cósmica desapegada de laços emocionais, como explorado nos arcos narrativos subsequentes à Eclipse.

A representação da dor física e os limites impostos a um personagem tão vaidoso e controlador são elementos cruciais para a construção da tragédia que se desenrola, forçando o público a confrontar as consequências da ambição levada ao extremo, independentemente da especificidade de cada ato de violência sofrido durante seu cativeiro.