A distorcida noção de família do vilão rui em kimetsu no yaiba
A complexa figura de Rui, da Lua Inferior Dois, revela um profundo anseio por laços afetivos, mesmo que alcançados por meios deturpados.
A narrativa de Kimetsu no Yaiba, ou *Demon Slayer*, frequentemente explora as tragédias individuais que moldam seus antagonistas. Um dos exemplos mais impactantes desse tema é Rui, a Lua Inferior Dois. Sua motivação central, a criação de uma família perfeita, revela uma compreensão profundamente fraturada sobre o que constitui um laço familiar verdadeiro.
O ponto de inflexão para a motivação de Rui reside no breve, mas crucial, encontro com Tanjiro Kamado e Nezuko Kamado. Ao testemunhar a lealdade inabalável de Tanjiro para com sua irmã transformada, Rui enxerga um reflexo distorcido de seu próprio desejo insaciável por pertencer.
O Conceito de Pertença Imposto
Para Rui, a família não era vista como um laço orgânico construído sobre amor mútuo e compromisso voluntário. Em vez disso, ele percebia a estrutura familiar como um contrato de obediência e permanência forçada. A observação da devoção entre Tanjiro e Nezuko serviu como um gatilho para sua obsessão em replicar essa dinâmica, mas sob suas próprias regras inflexíveis.
A reação imediata de Rui ao observar os irmãos Kamado foi pensar em sequestrar Nezuko e forçá-la a se tornar sua “irmã” de aranha, assumindo o papel que ele designava para ela. Este ato, embora breve na cronologia da série, encapsula o cerne de sua patologia: a incapacidade de compreender a natureza voluntária dos afetos humanos.
O Desejo Pela Forma, Não Pela Essência
A tragédia de Rui reside no fato de que, apesar de sua extrema crueldade e manipulação, ele desejava a forma mais básica de conexão humana. Ele conhecia a estrutura da família: pais, irmãos, regras. Contudo, ele não compreendia a essência: o cuidado genuíno, o sacrifício desinteressado e a aceitação incondicional.
A demonstração de afeto que Tanjiro oferecia a Nezuko era exatamente aquilo que Rui tentava impor aos seus seguidores, prometendo-lhes imortalidade e segurança em troca de lealdade absoluta. Qualquer desvio dessas normas resultava em punição severa ou morte, ilustrando que, para ele, a união dependia de medo, e não de amor. Ele desejava ser amado, mas só sabia exigir submissão.
Esta análise sobre Rui sublinha a profundidade com que o mangaká Koyoharu Gotouge explora o conceito de laços afetivos na obra. A obsessão de Rui serve como um comentário sombrio sobre como a ausência extrema de amor pode levar um indivíduo a distorcer a própria definição de relacionamento humano, transformando um anseio saudável em um mecanismo de controle destrutivo. Estudiosos de narrativas shonen frequentemente citam este arco como um exemplo primoroso de como o desenvolvimento de vilões pode enriquecer o tema central da obra, que em Kimetsu no Yaiba é, fundamentalmente, sobre família e sacrifício.