Análise narrativa aponta que a série desvia da fórmula shounen tradicional em seu tratamento de antagonistas
A forma como a série subverte as expectativas sobre o confronto direto entre protagonista e os principais vilões recorrentes chama a atenção.
O universo dos animes e mangás shounen frequentemente segue um roteiro previsível quando se trata de estabelecer hierarquias de poder, especialmente com a presença recorrente de um grande vilão principal cercado por um esquadrão de antagonistas secundários. Em muitas narrativas desse tipo, a progressão do protagonista é medida pela sua capacidade de superar, um a um, esses subordinados mais fortes antes de, finalmente, desafiar o chefe supremo.
No entanto, uma análise recente sobre a estrutura narrativa de certas obras populares, como Kimetsu no Yaiba, destaca um desvio significativo dessa convenção estabelecida, focando em como a progressão de Tanjiro Kamado se desenrola em relação às Luas Superiores.
A redução do confronto direto
A expectativa gerada por um elenco de antagonistas recorrentes, como as Luas Superiores, sugere que o herói principal enfrentará a maioria deles em batalhas cruciais. Contudo, a trajetória do personagem principal é marcada por um número surpreendentemente limitado de confrontos diretos com os membros mais poderosos desse grupo. Em vez de um extenso histórico de vitórias contra cada um dos subordinados de elite, o protagonista se depara apenas com um subconjunto específico.
Para ilustrar, se considerarmos a dupla Daki e Gyutaro como uma única ameaça enfrentada, o herói principal só chega a lutar contra um número reduzido de Luas Superiores, como Akaza e Hantengu. Isso cria uma dinâmica onde a ameaça geral é mantida alta, mas a intervenção direta do protagonista é seletiva.
O mistério dos ausentes
O ponto mais notável desse desvio é a ausência de encontros ou lutas contra a maior parte dos membros mais temidos do esquadrão inimigo, especificamente Kokushibo, Doma e Gyokko. Em um cenário típico shounen, seria quase obrigatório que o avanço do protagonista culminasse em um teste contra cada um desses pilares das forças opostas.
Essa omissão estilística sugere um foco narrativo diferente. Em vez de priorizar a jornada do protagonista estabelecendo domínio físico sobre todos os escalões de poder, a trama pode estar priorizando o desenvolvimento de outros personagens coadjuvantes em momentos decisivos ou, ainda, reservando o clímax para confrontos que transcendem a simples lista de chefes a serem derrotados. Até mesmo ao incluir as Luas Inferiores, o protagonista enfrenta apenas uma fração do total de antagonistas secundários.
Essa abordagem inovadora na construção de arc-enemigos ajuda a manter a tensão e a imprevisibilidade, garantindo que o poder dos vilões remanescentes continue a ser uma força iminente no cenário da história, mesmo que não sejam superados diretamente pelo personagem principal ao longo de seu arco de ascensão.