A dicotomia trágica entre o eclipse e a batalha de doldrey: Uma análise da traição e do sacrifício em 'berserk'
A comparação entre o Eclipse e a Batalha de Doldrey provoca reflexões profundas sobre a moralidade e os custos do poder na obra 'Berserk'.
A narrativa de Berserk é repleta de momentos de horror indescritível e revelações chocantes, mas poucos eventos dividem a opinião e o impacto emocional dos leitores tanto quanto a Batalha de Doldrey e o subsequente Eclipse. Uma ponderação sobre estes marcos sugere que, embora Doldrey represente um evento militar monumental, o Eclipse funciona como uma chaga existencial na trama.
A Batalha de Doldrey, um feito estratégico que garantiu a ascensão meteórica da Banda do Falcão no reino de Midland, é um testemunho da genialidade tática de Griffith. Ela simboliza a ambição humana levada ao seu limite, onde milhares de vidas são mobilizadas e sacrificadas para solidificar um objetivo geopolítico. Contudo, a natureza desse conflito é primariamente estratégica e militar. Os soldados da Falange eram voluntários, combatendo por ideais de glória, liberdade ou simplesmente por lealdade ao seu carismático comandante.
A revelação moral do Eclipse
Em contraste direto, o Eclipse transcende a escala militar. O que se apresenta como um sacrifício final de Griffith, que permite sua ascensão à divindade como Femto no Império Qliphoth, é descrito como o ápice da traição contra a irmandade. O ponto central levantado por tal comparação é que o Eclipse não é apenas um evento de violência, mas sim uma representação explícita da realidade moral oculta já presente nas ações de Griffith.
A questão fundamental reside na motivação. Em Doldrey, o sacrifício, embora terrível, serve a uma causa que Griffith vendia como nobre: a construção de seu próprio reino. No Eclipse, o sacrifício é puramente egoísta, transformando seus companheiros mais íntimos em moeda de troca para um desejo pessoal de poder absoluto, despirando qualquer fachada heroica anterior. É a manifestação definitiva da natureza predatória de Griffith, que, desde o início de sua campanha em Midland, usava os soldados como meio para seu fim.
Analisar a tensão moral exige que se decida sobre o alicerce da vilania. Deve-se condenar Griffith apenas pelo ato consumado do Eclipse, o momento literal do banho de sangue espiritual e físico? Ou a reprovação deve se alargar para abarcar toda a sua campanha em Midland, o período em que ele habilmente explorou a devoção e a esperança alheias para pavimentar seu caminho até o topo?
Muitos argumentam que a campanha inteira simboliza a corrupção gradual. Cada vitória, cada ato de carisma, era parte de uma manipulação em grande escala. Doldrey, neste contexto, não é apenas um campo de batalha vitorioso, mas o ponto onde a engenharia social de Griffith se torna irrefutável, ainda que sua verdadeira intenção permaneça sombria. A tragédia em Kentaro Miura reside em mostrar que a busca pelo sonho pode se tornar um pesadelo absoluto quando desassociada de qualquer empatia humana, transformando o Eclipse em um espelho sombrio de todas as escolhas feitas antes.