O impacto visceral da adaptação de 1997 de berserk: Dilemas éticos e a intensidade da experiência de assistir

A adaptação de 1997 de Berserk gerou fortes reações em novos espectadores sobre sua conclusão chocante e sua abordagem de temas extremos.

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Analista de Mangá Shounen

27/11/2025 às 07:02

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A animação de 1997 de Berserk, muitas vezes celebrada por sua atmosfera sombria e fidelidade ao tom da obra original de Kentaro Miura, continua a provocar reações intensas em espectadores que a découvrent sem o benefício da nostalgia. Uma experiência recente de alguém que abordou a série sem spoilers destaca o choque profundo causado pela forma como a narrativa é abruptamente interrompida.

Para o espectador em questão, que se descreve como apreciador de temas maduros, citando obras como Trigun, Welcome to the NHK e Attack on Titan, a qualidade da produção, a arte cativante e a construção de mundo foram notáveis, equiparando-se, em sua opinião, ao potencial de narrativas épicas como Game of Thrones.

O final abrupto e a questão da violação narrativa

O ponto central de perturbação reside na conclusão da série de 1997. O clímax, que culmina em cenas de extrema violência e depravação, funciona como um gancho narrativo brutal. A crítica implícita aponta que o recurso de usar um ato tão chocante como finalização, sem oferecer resolução, pode ser percebido como exploratório, projetado unicamente para forçar o público a buscar o mangá para obter a continuidade da vingança de Guts.

Essa abordagem levantou questionamentos sobre a intenção da obra. É válido, argumenta-se, que uma peça midiática deixe o receptor com sentimentos avassaladores de raiva, vingança e, no caso extremo observado, violação, mesmo que essa intensidade reflita a fúria do protagonista. Há uma distinção importante entre retratar a escuridão e utilizar o sofrimento extremo, especialmente o abuso sexualizado, de maneira gratuita.

O arco de Casca e a permanência da miséria

A descoberta subsequente sobre o destino de Casca após os eventos mostrados na animação acentuou a insatisfação. O conhecimento de que a personagem permanece em estado vegetativo por um longo período, combinado com o falecimento posterior do criador da obra, Kentaro Miura, intensifica a sensação de exploração da tragédia dos personagens.

Há um debate recorrente sobre a aceitabilidade desse tipo de arco narrativo que prolonga o sofrimento de figuras centrais, parecendo não oferecer um retorno catártico ou redentor que justifique a profundidade da dor infligida. Para o espectador, a linha entre arte sombria e miséria gratuita se tornou tênue.

A complexidade da catarse na obra de Miura

Outra dimensão levantada é a alegação de que Berserk oferece catarse a leitores que vivenciaram traumas reais. A dificuldade reside em compreender como a exposição contínua a um ciclo de horror e sofrimento sem um desfecho claro ou uma mensagem transcendente pode ser terapêutica. A comparação foi feita com o vício destrutivo como uma falsa forma de alívio.

Apesar da admiração pela construção do universo e pelo desenvolvimento complexo dos personagens, persiste a dúvida sobre o valor positivo geral da obra. Mesmo respeitando o legado de Kentaro Miura, a experiência final deixa uma marca de desconforto ético. A série, com sua camada superficialmente atraente, convida a questionamentos profundos sobre os limites da representação do trauma na ficção e o que se espera do espectador ao final de uma jornada tão árdua.

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Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.