A eterna indagação sobre a maldade máxima na narrativa de berserk
A complexidade moral em Berserk convida à análise de quem personifica o mal supremo na obra.
A saga épica de Berserk, criada pelo mestre Kentaro Miura, é notória por não apresentar um universo maniqueísta simples de bem contra o mal. Pelo contrário, a obra mergulha nas profundezas da psique humana e do sobrenatural, gerando debates contínuos sobre qual personagem detém o título de agente mais malévolo da história. Essa discussão transcende a simples classificação de vilões, focalizando na profundidade das motivações e na extensão dos seus atos destrutivos contra os protagonistas, Guts e Casca.
A dicotomia entre a maldade humana e a demoníaca
Ao analisar a galeria de antagonistas, os observadores frequentemente separam a maldade em duas categorias principais: aquela inerente à natureza humana corrompida e aquela de origem extradimensional ou divina. De um lado, figuras como Griffith, antes de sua transformação, já demonstravam uma ambição desmedida e uma capacidade fria de manipulação, culminando no Eclipse. Sua traição, motivada pelo desejo de realizar um sonho, é vista por muitos como o ápice do egoísmo, onde a busca pessoal justifica o sacrifício de todos que o amavam.
Do outro lado, estão as entidades que governam a hierarquia demoníaca. Os Membros da Mão de Deus, como Femto (a forma demoníaca de Griffith), Void, e Slan, representam um mal cósmico, desprovido de qualquer vestígio de humanidade ou redenção possível. Eles operam sob uma lógica transcendental que considera a dor e o sofrimento meros subprodutos aceitáveis, ou até mesmo desejáveis, na manutenção do equilíbrio das forças do mal no mundo.
O peso da ambição e a perda da alma
A controvérsia muitas vezes se concentra em Griffith. Embora os demônios sejam inerentemente maus, a escolha consciente de Griffith de abrir mão de sua humanidade, de seus amigos e de sua moralidade pelo poder divino é frequentemente apontada como a atrocidade mais terrível. Ele não foi forçado pela natureza, mas sim pelo seu próprio desejo ardente, um conceito que ressoa profundamente com a exploração da filosofia niilista presente na série.
Por outro lado, personagens secundários, como o apóstolo Mozgus, ou mesmo os atos cruéis cometidos casualmente por soldados e lordes ao longo da narrativa, servem como lembretes constantes de que a maldade não reside apenas nos grandes vilões sobrenaturais. A depravação humana, motivada por medo, inveja ou luxúria, pavimenta o caminho para as maiores tragédias de Berserk, exemplificando como a escuridão pode florescer mesmo na ausência de poderes fantásticos.
A complexidade de Berserk garante que a resposta definitiva permaneça subjetiva. A verdadeira maldade pode ser a intenção puramente maligna das entidades celestiais ou a falha moral irreparável que um indivíduo escolhe abraçar, transformando-se ele próprio em um monstro.