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A representação visual da ascensão da mão de deus no mangá berserk e seu paralelo com m.c. Escher

Análise destaca a introdução visual da Mão de Deus, comparando-a com obras de M.C. Escher.

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Analista de Mangá Shounen

03/11/2025 às 06:52

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A representação visual da ascensão da mão de deus no mangá berserk e seu paralelo com m.c. Escher

Um momento crucial na narrativa de Berserk, quando a Mão de Deus é convocada pela primeira vez através do Behelit do Conde, sempre gera discussões sobre a força da arte de Kentaro Miura. Um ponto específico dessa introdução, notado por admiradores da obra, reside na composição visual que acompanha tal evento apocalíptico, visto no mangá ainda nos seus capítulos iniciais (0.06).

A cena em questão, que marca a aparição dos membros da Mão de Deus diante do Conde enquanto este invoca seu poder, parece dialogar diretamente com as complexas e perturbadoras ilusões arquitetônicas do artista holandês M.C. Escher.

A estética do terror cósmico

A habilidade de Miura em traduzir o terror cósmico e o existencialismo para o papel é frequentemente celebrada, mas a configuração específica da primeira aparição da Mão de Deus é citada como um ápice de sua criatividade composicional. Esta cena utiliza perspectivas distorcidas e espaços aparentemente impossíveis para sublinhar a natureza imutável e externa desses seres cósmicos, um recurso que lembra obras como a Relatividade de Escher, onde as leis da física são sutilmente quebradas para criar um ambiente onírico, porém opressor.

A escolha deste cenário para apresentar os antagonistas supremos do universo de Berserk foi considerada precisa. Ao invés de focar apenas em expressões faciais ou no design monstruoso, Miura optou por estabelecer a atmosfera através do ambiente, sugerindo que a própria realidade se dobra diante da presença deles. Essa construção visual estabelece imediatamente uma hierarquia cósmica implícita, onde a lógica humana falha em abranger o que está sendo testemunhado.

Foco artístico e a evolução do traço

Observando a trajetória de Miura, percebe-se uma mudança natural no foco de sua arte ao longo das décadas. Enquanto os primeiros arcos priorizaram essas paisagens oníricas e visões conceituais para ilustrar o poder oculto, a maior parte do trabalho subsequente de Miura, especialmente em arcos posteriores como o Eclipse e as sagas subsequentes, tendeu a se concentrar mais intensamente nos detalhes crus dos personagens. Houve uma predominância do foco em monstros detalhados, reações emocionais extremas e a representação visceral da armadura e do combate.

Embora essa mudança tenha levado a um nível inigualável de detalhamento nas batalhas e na caracterização psicológica, o aspecto da arquitetura conceitual e do terror dimensional, tão bem estabelecido na recepção inicial da Mão de Deus, é visto por alguns como um estilo que poderia ter sido explorado mais vezes. A maneira como Miura capturou a alucinação ou a invasão de uma dimensão superior através da arte geométrica sugere um potencial inexplorado para a construção de cenários que refletissem o horror metafísico inerente à trama de Berserk, um mangá que continua a ser um marco no mangá seinen.

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Analista de Mangá Shounen

Especializado em análise aprofundada de mangás de ação e batalhas (shounen), com foco em narrativas complexas, desenvolvimento de enredo e teorias de fãs. Experiência em desconstrução de arcos narrativos e especulações baseadas em detalhes canônicos.